quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma Flor

Era só um espaço em branco. Um nada, um pode-vir-a-ser-algo. E, geralmente, onde existe um pode-vir-a-ser, um dia realmente passa a existir um ser.
Era assim que ela pensava. E então continuava, quietinha, quentinha, encolhidinha em seu canto. Esperando, confortavelmente, que um dia pudesse vir-a-ser.
Ser o que? O que ela quisesse! Afinal, é para isso que servem os grandes vazios: para virem a ser o que bem entenderem.
Ela só não sabia muito bem como aconteceria. Como ela viria-a-ser algo, o que ela quisesse. Talvez estivesse esperando por algum tipo de sinal, já não se lembrava muito bem. Talvez alguém viesse acordá-la, cutucá-la, mostrá-la ao mundo lá fora, mostrar a tudo e a todos que naquele nada existia uma grande possibilidade, que era ela.
Mas como poderia ser ela, se era só um nada? Um espaço em branco, uma possibilidade? Algo ainda inexistente, por-vir.
Não cabia a ela questionar. Ela só sabia que estava cansada de esperar por um sinal, até que percebeu: talvez o sinal pelo qual esperava fosse justamente esse, a falta de sinais! Agora estava claro: não era ela uma possibilidade infinita, desdobrando-se em milhões de coisas, e, ao mesmo tempo, em nada? Pois era isso, ninguém viria acordá-la. Nenhum sinal divino chegaria até ela. Pois ela já era tudo de que necessitava, o nada, o sinal, o por-vir, as possibilidades. Estava tudo dentro dela.
E, sendo assim, levantou-se, espreguiçou-se bocejando um pouco, e desabrochou. Levou a vida que queria, como queria, pois carregava em si todas as possibilidades de milhares de vidas.

Um comentário:

  1. Que lindo!!!
    Adorei esse texto!
    Serve tanto para uma flor, como para uma mulher! Super original!

    Ah, tem uma brincadeira lá no meu blog pra ti!

    Beijos!

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