segunda-feira, 17 de maio de 2010

Eles estavam correndo já fazia um bom tempo. Nem saberiam dizer quanto tempo, na verdade. Só lembravam de correr e correr, desde sempre. E nunca chegar a lugar nenhum. Na verdade, aquele ritmo desenfreado que havia tomado conta dos dois já estava lá há tanto tempo que era bem capaz de terem chegado a algum lugar e passado direto por ele, correndo tanto que nem o viram.
Se antes eles tinham um motivo para correr, agora era apenas por hábito, comodidade, talvez até por um pouco de medo de mudar.
E também já fazia tanto tempo, que nem se lembravam mais como era a vida antes de correr. Era boa? Era ruim? Era divertida ou sofrida? Era mais colorida ou mais cinza do que aquela profusão descoordenada de cores que eles enxergavam enquanto corriam?
Pelo menos, correndo eles não tinham que pensar em muita coisa, ou fazer muita coisa, além de mexer os pés. Era, a seu modo, confortável. Correr lado a lado, sem precisar falar nada, pensar nada. Apenas os dois corpos se movendo, ritmadamente, velozmente.
A corrida era seu modo de passar pela vida.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Eu não sou uma boa escritora. Eu só funciono como escritora em momentos de grande pressão emocional ou psicológica. Quando as coisas estão bem, em paz, quando eu estou em paz comigo mesma, não consigo escrever. Ou até consigo, mas tudo que escrevo me parece superficial, como bobagenzinhas felizes que são escritas sem nenhum valor literário (aliás, desde que troquei o Jornalismo pelas Letras que venho questionando o valor literário do que escrevo, tudo parece tão pequeno comparado com os autores que estudo...).
Eu preciso de uma decepção amorosa. Das grandes, daquelas que fazem você ficar sem querer sair da cama por 2 semanas, daquelas que fazem você achar que vai morrer de tanta dor de amor, daquelas que fazem você ter certeza de que vai morrer de tanta dor de amor.
Precisava ficar tipo a Bridget Jones, sozinha em casa, bêbada, cantando "All by myself". Porque é só quando eu chego no fundo do poço, quando não tenho mais perspectiva nenhuma pra nada, que consigo escrever bem.
E aí, é escrevendo que encontro forças pra me reerguer, me reencontrar e me reinventar, e assim sair mais uma vez daquele buraco.
Se bem que talvez seja aí que esteja a verdadeira força do que escrevo quando estou mal. Não em estar no fundo do poço, mas nessa busca por mim mesma, nessa busca pra me descobrir e me redefinir. Talvez, se eu tentasse mais uma vez me encontrar, independentemente de estar bem ou estar mal, conseguisse escrever algo decente...