segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Someday...

E então ele desabou. Qual o problema? Ninguém disse que ele era obrigado a ser feliz o tempo todo. Ele sabia muito bem que a felicidade dele dependia dele mesmo e de mais ninguém. Mesmo assim, qual o problema de deixar a tristeza entrar de vez em quando? Afinal, cada ferida em sua alma era uma porta aberta para ela.
E de vez em quando faz bem não sair do quarto, não levantar da cama. Pra felicidade poder voltar, é preciso que você primeiro saboreie toda a tristeza e a melancolia, pra que não sobre nenhum restinho ácido quando a tal da alegria resolver aparecer de novo.
Então foi o que ele fez. Deitado no chão da sala daquele apartamento vazio, o tempo parecia não passar. Ele apenas olhava para o teto, enquanto deixava a música que saía do som alto encobrir seus pensamentos e aquele turbilhão de sentimentos invadir seu peito.
Até que era bom. Sentir algo tão intenso fazia ele se lembrar de que estava vivo; a correria do dia a dia muitas vezes não nos deixa perceber isso. O quanto é importante sentir algo, nem que seja aquela dor terrível, ou aquele vazio melancólico.
Ele sabia que ela não ia voltar. E sabia que também não a procuraria. "Tudo tem seu tempo", ele pensou, "e o nosso já passou". Se lembrou de cada momento, saboreando as lembranças e a dor aguda que o atingia juntamente com cada uma delas. Ele sabia que ia doer ainda por um bom tempo. Mas sabia também que não se arrependia de nada e que uma hora a dor iria passar.
No rádio, John Mayer com sua voz rouca dizia "Someday I'll fly...", e ele achou curioso o fato de atentar justamente para este pedaço desta música. "'Cause I'm bigger than my body". Era como ele se sentia. Aquela coisa da bonança que sucede a tempestade. Ele sabia que ia passar, e que um dia ele iria voar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ruptura

 E do nada você começa a questionar seus próprios valores e crenças. A achar que talvez tudo aquilo em que você sempre acreditou não seja assim tão perfeito ou fixo quanto você pensava.
Não que você tenha estado errado esse tempo todo. Simplesmente talvez não exista essa divisão tão estrita entre certo e errado. Ok, você sempre soube que o conceito de certo e errado era algo relativo, mas para você, sempre foi muito clara a linha que separava um do outro. Só que agora não é mais. Aliás, se é que existe alguma.
Pronto. Aconteceu uma ruptura, mesmo que você não saiba o que a causou. Mas algo agora te separa de quem você foi há 5 minutos, e você nunca mais será o mesmo. "Não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio", não é mesmo? E no fundo, você sabe disso.
Aquele momento em que você pensa: "É agora. É exatamente nesse ponto que minha vida pode mudar pra sempre, se eu deixar que aconteça. Se eu tiver a coragem de me deixar levar, eu nunca voltarei a ser quem eu sou agora.".
Mudar assusta. Mas é necessário e é muito bom, vai dizer que não? Claro que andar por um território desconhecido é sempre arriscado. Se você sempre usou sapatos, andar descalço provavelmente deixará marcas nos seus pés. Mas você se acostuma, e se descobre mais forte e mais resistente do que imaginou que pudesse ser.
"Mente vazia, oficina do diabo", minha avó já dizia. Mas se estamos mesmo num momento de questionamento, por que não aproveitar o momento de ócio mental e deixar algumas perguntinhas se instalarem por lá? Pode ser que elas nos levem à loucura, sempre há esse risco... Mas também pode ser que elas nos levem a uma nova visão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sunny

O sol brilhava e o ar do dia estava pesado, parado.
O verde nos campos à frente dele parecia opressor, de tão imenso.
Sem saber o que fazer, sentado na grama e vendo a tarde passar, ele a viu passar.
Ela passou alegre, leve e distraída. Sem percebê-lo. Sem sabê-lo.
Ele nem ao menos se levantou. Apenas a observou.
E a viu passar, junto com a tarde.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Vontade

E de repente vem essa vontade de escrever. De soltar cores, formas, luzes. De tentar encontrar meu modo de iluminar esse quarto imundo, essa noite escura, esses meus tênis encardidos.
Nem sempre as palavras parecem bastar. Há momentos em que temos que nos bastar, nós mesmos, sem artifícios, sem maquiagem, sem penteados ou roupas ou palavras. Há momentos em que temos que ser fortes o suficiente pra encarar que essa corrida, essa dor, esse amor, esse tanto sofrer são mais do que necessários. São essenciais.
Essa bagunça à minha volta me incomoda. Mas também me aconchega, essa bagunça já tão característica em tudo que me rodeia é uma boa representante de tudo aquilo que quero e que não quero, que penso e que não digo, aquilo tudo que sou eu.
Eu sou uma bagunça. Das grandes. E esse emaranhado, já nem sei mais se quero que se desfaça. O que vai sobrar, se ele um dia se desfizer? Não sei. Prefiro não descobrir.
Pelo menos por enquanto, a bagunça, o emaranhado, a inconstância me satisfazem mais do que qualquer outra coisa.
E a dor? Ela é uma parte importantíssima disso tudo.